sexta-feira, novembro 26, 2004

O Poder do Exibicionismo

O lateral modelo foi, ate há pouco tempo, um lateral defensivo cuja função era, principalmente, a marcação ao extremo e, só em determinadas situações, o auxílio ofensivo aos extremos na tentativa de desequilibrar pelas alas. Contudo, as novas tendências tácticas, revelam a ascensão de um modelo de jogo (4-4-2 losango) em que os extremos deixam de ter utilidade, concentrando todo o volume de jogo pela zona central. Apesar disso, os treinadores não abdicam de explorar as faixas laterais e encontraram a solução através da adaptação de jogadores que, sendo de características mais ofensivas, a posições mais recuadas criando-lhes rotinas defensivas mas, ao mesmo tempo, aproveitarem a sua capacidade de explosão e de definição dos lances ofensivos para alargarem o leque de opções atacantes de modo a não concentrar excessivamente o jogo na zona central.

Na verdade, nas camadas mais jovens, quando ainda existe uma indefinição em relação à posição dos jogadores, o treinador experimenta recuar o extremo de modo a definir melhor a posição do jovem (de certo modo, não é surpreendente que Chalana, treinador de camadas mais jovens, foi quem descobriu o talento de Miguel enquanto lateral direito). Este fenómeno ocorria nas camadas mais novas mas, ao mais alto nível, é um fenómeno recente que proveio de Itália (só para citar alguns: Zambrotta, Cafu, Mancini, Zauri, entre outros) e que alargou ao resto da Europa. E em Portugal, o caso de Miguel é exemplar mas onde se observa um melhor exemplo da ascensão do lateral ousado perante o lateral defensivo é o caso do Sporting onde o jovem Paito conquistou o lugar ao ex-titular da selecção nacional Rui Jorge.

No primeiro caso, este foi sempre um extremo esquerdo e, com a entrada na equipa B, foi adaptado à lateral. A sua capacidade de explosão torna Paito um elemento perigoso na manobra ofensiva. Apesar de tudo, a falta de rotina defensiva e a dificuldade na definição dos lances ofensivos (principalmente nos cruzamentos), transforma um potencial ofensivo num risco defensivo revelando também inconsistência a todos os níveis. E estes excessos são passíveis de ser corrigidos com a idade sendo Paito um jogador com um grande potencial.

No caso de Rui Jorge, sendo um jogador menos ousado, revela não só consistência a nível defensivo como também revela inteligência nas actuações ofensivas sendo também um excelente auxilio ao extremo, fruto também da experiência acumulada ao longo dos anos.

Perante esta situação, José Peseiro vê-se perante uma situação complicada: tendo um lateral explosivo que se adequa mais ás necessidades da equipa e outro que, sendo menos explosivo mas de melhor qualidade, vendo as deficiências do plantel e acrescentando ainda a falta de inspiração de determinados jogadores (entre outros Hugo Viana) leva-nos a questionar ate que ponto ira o losango impor-se na zona de Alvalade?